Qual o
sentido de sua vida?
Observo
as pessoas nas calçadas, nos bancos de praça e nas esquinas
enquanto espero o sinal vermelho. Será que alguma vez as pessoas já
se perguntaram sobre o sentido de suas vidas? Provavelmente não.
Elas estão ocupadas demais em continuar girando, pois são uma
pequena engrenagem que não faz a menor ideia de sua função dentro
de uma máquina gigantesca.
São
ignorantes de si
mesmos, vejo-os
como mendigos, catando ao longo de suas vidas as migalhas de prazer
que dão sentido a ela. E os vejo como prisioneiros, precisando se
conformar com o que têm dentro de suas próprias celas, e aprender a
extrair o máximo de prazer do que está em volta. Seus corpos de
animais podem facilmente ter satisfeitas suas necessidades mais
básicas. Mas suas mentes são animais imateriais com um apetite
insaciável. E elas se alimentam apenas de prazer, que, para quase
todos nós, é consumido ao ritmo de migalhas ao longo dos dias, dos
meses e dos anos.
O que
fazer, então, nos intervalos entre uma e outra migalha? É preciso
entrar num estado em que intencionalmente iludimos nossa consciência,
colocando-a num transe de embriaguez anestésica, de suspensão
forçada, em que a vida é vivida em marcha-lenta, à espera da
próxima oportunidade de recompensa. Quando essa recompensa demora, é
preciso acalmar a fera sedenta que nossos corpos carregam, e nós a
sedamos com drogas saudáveis e prejudiciais, palavras-cruzadas,
conversas improdutivas, informações inúteis; nós a distraímos
com lembranças extremamente prazerosas, ao som de músicas que nos
transportam de volta a um momento maravilhoso, ou nos levam para um
futuro que jamais viveremos; nós a consolamos com romances e filmes
que trazem para as nossas vidas as emoções que não conseguimos
obter por conta própria, ou que sequer tivemos coragem de tentar.
Fazemos
isso tão rotineiramente e há tanto tempo, que nunca nos demos
conta. Mas observe o que acontece numa longa fila de banco ou de um
supermercado e
facilmente você identificará o processo. As pessoas estarão
conversando com estranhos, ouvindo música, mexendo no celular, lendo
uma revista… Poderão estar, também, totalmente absortas em seus
próprios pensamentos, divertindo-se com alguma lembrança boa, ou
imaginando uma situação imensamente prazerosa, por mais absurda,
improvável ou impossível que seja. Repare bem em seus rostos e
compare suas expressões e atitudes com as daquelas que estão apenas
concentradas na sua real situação: a de ter que permanecer por
vários minutos numa longa fila. Só aí você irá perceber a agonia
do animal humano preso na sua cela sem nenhuma migalha de prazer para
saciar seu apetite voraz.
Acredito
que a quase totalidade de nós não tem noção do que é, nem do que
é feito, nem de “para
que serve”…
Elas não têm para si as mesmas respostas que dariam sentido a um
saca-rolhas. Para essas pessoas, a vida é completamente sem
propósito; uma imposição do acaso incompreensível da existência
em que se descobriram, no susto de quem desavisadamente cai num rio
caudaloso e é arrastado pela correnteza. O melhor que conseguem
fazer é se debater vigorosa e continuadamente para manter o rosto
acima da superfície da água. Elas levantam de manhã, levam seus
filhos para a escola, vão para o trabalho, enfrentam o trânsito,
voltam para casa à noite, dia após dia, e nem mesmo sabem por que
fazem o que fazem. Na verdade, sequer encontram tempo para refletir
sobre isso, ou, pior, mentem para si mesmas ao assumirem que o
sentido de suas vidas está vinculado à tola esperança de viver uma
outra, para sempre, num mundo encantado repleto de prazeres.
Quando
admitimos que, em última análise e em última instância, é o
prazer que dá sentido às nossas vidas; quando percebemos que tudo o
que fazemos — ou que deixamos de fazer — é para tornar mais
frequentes as oportunidades de sentirmos prazer e reduzir as
situações que possam nos privar dele, então todo o resto passa a
fazer sentido. Quando descobrimos os limites de nossas próprias
celas; quando identificamos o que nos dá prazer ao longo dos nossos
dias, e o que fazemos entre esses momentos; somente aí é que
podemos dizer que realmente estamos vivendo a nossa vida, em vez de
estarmos sendo arrastados por ela.
Talvez
somente essa consciência do que dá sentido à vida nos permita
fazer, hoje, tudo o que estiver ao nosso alcance para vivermos da
melhor maneira que pudermos, e aproveitarmos ao máximo a única vida
que teremos. E também para que, no futuro, quando essa mesma
consciência enfim nos alertar de que nosso tempo já está inadiável
e inevitavelmente no fim, nós possamos nos conformar com nosso
próprio destino, e aproveitar para chorar de saudade de todos os
dias que vivemos. Em vez de chorar de tristeza por tê-los vivido tão
pouco.
http://deusilusao.com/2013/03/05/qual-o-sentido-da-vida-fim/
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